quarta-feira, dezembro 26, 2007

Tentando não entender.

Clarice, certa vez você escreveu que não entender é um dom. Eu discordo. Não entender algo é como começar a montar um quebra-cabeças e, perto do final, descobrir que tá faltando um monte de peças. Sinceramente, eu não sei como os ateus não ficam loucos. Porque não dá pra pensar em astronomia, vida, morte, física e muita coisa nesse mundo (e fora dele) sem colocar Deus na jogada. Você pira. Não é que Ele vá explicar, mas o fato de jogar a responsabilidade pra Alguém já ajuda muito. Pior são aquelas coisas que você não entende, sabe quem pode explicar, mas por algum motivo não pode perguntar. A resposta está ali, quase ao alcance da sua mão e você não pega.

Eu acho, Clarice, que o bom de verdade é acreditar que não entender é um dom. Isso sim! Como ter loucura e não ser maluco. Entender menos e não estar nem aí. Ficar distraído apesar de tudo. Conseguir esquecer algo que está martelando na cabeça. Poder mudar de canal quando a programação da sua vida estiver um saco. Depor a razão e deixar a emoção assumir o mandato, Adriana.

É, Clarice, eu sei. Entendi que foi isso mesmo que você disse. Discordei mas cheguei ao mesmo lugar. Você está certa. A vida tinha que ser como esse texto nonsense. Começar amarelo e terminar triângulo. Eu não quero tentar entender o mundo de novo. Não agora. Quem sabe no próximo ano? E olhe lá.


-*-


Você aí, não tente entender, tente não se assustar. Esse relógio, baseado em estatísticas, mostra em tempo real o que anda acontecendo no seu Mundo.

Sugestões de estatísticas que podiam ser acrescentadas nesse contador:

- Corações partidos
- Gols de bicicleta
- Topadas (pra gente rir)
- Litros de lágrimas derramadas
- Cartas de amor escritas
- Livros lidos
- Músicas compostas
- Novas amizades de verdade
- Galera com insônia
- Orgasmos
- Perdões
- Despedidas
- Reencontros
- Pesadelos
- Sonhos
- Sonhos Realizados
(Que, em 2008, você tenha vários.)

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Caranguejos me belisquem.

Uma pesquisa publicada na última edição da revista New Scientist acaba de afirmar que os crustáceos sentem dor. Isso mesmo. Porque, antes disso, achavam que o sistema nervoso do siri e cia era tão simples, tão primitivo, que eles não estariam nem aí pra nada. Pode botar vivo na água quente. E daí? Pode arrancar uma pata. Nem doeu.

Mas, e agora que sabemos que eles sofrem? Será que a humanidade vai mudar o modo como esses animais são tratados? Será que vai haver mais respeito? O Greenpeace vai organizar passeatas em defesa dos bichinhos?

Nada disso. Pode tirar o cavalinho marinho da chuva (que não é crustáceo, hein? Olha lá). Outros pesquisadores já contestaram e desmentiram tudo.

É. São uns insensíveis mesmo.

Não foi dessa vez, galera.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Edição

Os textos aqui nesse blog estão muito grandes. Como eu sei que na internet ninguém gosta de ler textos gigantescos, preciso aprender a escrever menos um pouquinho. Fazer textinhos menores. Uma página de Word, no máximo. Pra isso, tenho que editar e cortar tudo o que for desnecessário. Vou fazer assim: primeiro escrevo normalmente. Depois, mantenho o suficiente para passar a idéia original, deixo apenas as partes mais engraçadinhas, resumo tudo e pronto.

Os textos aqui estão grandes. Na internet ninguém gosta. Preciso escrever menos. Fazer textinhos. Uma página, no máximo. Tenho que editar e cortar tudo o que for desnecessário. Primeiro escrevo normalmente. Depois, mantenho o suficiente para a idéia original, deixo apenas as partes engraçadinhas, resumo e pronto.

Os textos estão grandes. Preciso escrever menos. Editar e cortar tudo o que for desnecessário. Mantenho o suficiente para a idéia original. Deixo as partes engraçadinhas, resumo e pronto.

Textos grandes. Preciso editar e cortar tudo. Mantenho o suficiente. Resumo e pronto.

Textos grandes. Preciso editar e pronto.

Pronto.

sexta-feira, agosto 17, 2007

A verdade está lá fora.

O que Yoda, O Pequeno Príncipe e Superman têm em comum? Lá vem você dizer que o Yoda dá luz em cima, o Superman dá luz embaixo e o Pequeno Príncipe... Bem, o Pequeno Príncipe você enfia lá naquele lugar. Não, nada disso. Que mente poluída, hein? Não é uma piadinha. É uma pergunta séria: o que Yoda, O Pequeno Príncipe e Superman têm em comum?

Ainda não sabe? Pensei que fosse fácil. E, se você parar pra pensar, eles têm muitas coisas em comum. Talvez seria até um pouco mais difícil de responder se o título desse post não estragasse a surpresa. Volte lá em cima pra ver de novo. Viu? Se mesmo assim você ainda não respondeu, é porque nunca assistiu Arquivo X. Desiste? Então tá. Até uma criança da Primeira Série B responderia que todos são de outro planeta.

Sim, mas além disso, eu aproveito para lembrar que eles não passam de ficção. Mas será que todos os seres de outro planeta são apenas criação da mente humana? Seria possível existir vida extraterrestre? Se não, qual a explicação para as pessoas que juram terem sido abduzidas? Seriam os deuses astronautas e eles ajudaram a construir as pirâmides do Egito? E o que são os OVNIs? Ah, você é daqueles que explicam tudo dizendo que aquelas luzinhas não passam de balões meteorológicos...

Eu respeito a sua opinião, mas acho que você está enganado. Ou enganada. Redondamente como um disco voador. E eu explico porque acredito que existe vida fora da Terra. Não exatamente no nosso Sistema Solar pois temos apenas nove planetas (quer dizer, oito porque rebaixaram Plutão) e apenas um deles, a nossa velha e mal cuidada Terra, tem condições para vida. Só que, caso você não esteja lembrado, cada estrelinha dessas que você vê no céu (e se você for para o interior vai ver infinitamente mais estrelas) tem vários planetas ao redor. Lembro que um físico uma vez disse que a quantidade de planetas no universo é a mesma quantidade de grãos de areia da praia de Copacabana. É muito planeta. Uma quantidade absurda de planetas. E o que você acha mais fácil: haver vida, um micróbio que seja, em apenas um único grão de areia da praia de Copacabana, ou, se houver em um, ter também em vários outros? Bem, acredito que se fosse pra ter só em um, era bem mais provável que não tivesse em nenhum. Mas, se tem vida morando num grão, outros também devem ter. É quase lógico.

E ainda digo mais. Pode haver vida em quase todo lugar. Tudo bem, Mercúrio é muito quente. Mas basta uma simples oportunidade e PUM. Tá lá um bichinho se mexendo. Olhe pro teclado do seu computador agora. Exatamente neste momento tem 5 mil germes vivendo tranquilamente bem aí debaixo dos seus dedos. Na esponja da cozinha tem mais de 7 bilhões de bactérias. O seu corpo é um ecossistema. É mais que isso, é uma galáxia. É mais ainda: quase um outro universo. Mesmo que você tome 3 banhos por dia tem 100 quatrilhões de micróbios vivendo com você. Você sabe o que são 100 quatrilhões?

Em abril deste ano, um planeta tipo o nosso foi encontrado fora do sistema solar. É o GL 581c. Um nome que até lembra o Asteróide B612 do nosso amigo de infância Pequeno Príncipe. Foi o maior passo dado pela humanidade em busca de vida extraterrestre. Na última década, mais de 200 planetas foram identificados fora do sistema solar e o GL 581c é o único que pode ser considerado um irmão da Terra. Os cientistas dizem que lá, a temperatura deve variar entre 0 e 40 graus. Ou seja, é até mais agradável do que essa nossa casa aqui, que tem lugares muito mais quentes, como nos desertos, e muito mais frios, como nos polos. Também acham que tem água na superfície desse GL. É muito provável que haja vida lá. Pode ser uma planta. Pode ser um musgo. Mas pode ser outra coisa mais evoluída também. Quem sabe?

Lembra daquela criança chata da primeira série B que estava se achando muito inteligente só porque acertou a pergunta lá de cima? Pois eu acho que ela devia ser mais humilde. Mas tudo tem seu tempo. Quando ela começar a ter aula de química vai ver o que é bom pra tosse. Por enquanto, apenas peço que essa criança observe a seguinte equação:

N = R* x ƒp x ne x ƒℓ x ƒi x ƒc x L

Fácil, né? Foi assim que Carl Sagan e Frank Drake demonstraram, de forma bastante simples e clara, qual é a possibilidade de encontrarmos vida inteligente fora do nosso planeta. E você, que a essa altura já deve ter calculado de cabeça, agora está convencido de que pode existir vida extraterrestre? Carl e Frank não fariam uma equação para isso se não acreditassem.

Bem... Eu sou completamente convencido que sim, eles estão em algum lugar lá fora. Tenho lá minhas dúvidas quanto ao fato de termos sidos visitados. Caso Roswell, incidente em Varginha, Chupacabras, discos voadores? Adoro esses assuntos, mesmo sabendo que provavelmente eles são tão reais quanto o meio-vulcano Senhor Spock. Mas eu tenho uma esperança. Sei lá, nunca vamos saber realmente. Sempre existe a chance deles estarem lá no GL 581c esperando a gente. Ou até, quem sabe, eles já tenham realmente aparecido por aqui. Ou podem chegar a qualquer momento. Talvez estejam em cima do seu prédio agora, descendo pelas escadas, se transportando para dentro do seu quarto.
CUIDADO, ATRÁS DE VOCÊ!!!

segunda-feira, julho 30, 2007

E agora, quem poderá nos defender?

O mundo bem que anda precisando de uns super-heróis. O Brasil, principalmente. O Recife então, nem se fala. E só sendo super mesmo pra dar conta de tanto trabalho. Pegar ladrão, prender assassino, segurar avião, punir político corrupto, tirar gato de árvore, salvar a gente do tubarão e o tubarão da gente, tirar os limpadores de vidros dos sinais, as crianças das ruas e os flanelinhas do planeta, acabar com o aquecimento global, com o desmatamento da Amazônia, a fome, o tráfico de drogas, as guerras e os atentados terroristas. E olhe que ainda tem muito mais coisa pra fazer. É o caos. Pensando bem, pra resolver tanto problema e tanta bagunça, a gente ia precisar de uma Liga da Justiça inteira.

Só que super-herói é um item que anda meio em falta. Que chance realmente existe de aparecer um? Como isso poderia acontecer? Bem, vamos ver as opções. Ele podia vir de outro planeta. Mas como o planeta habitado mais próximo deve ficar muito, muito longe, essa é uma possibilidade muito, muito remota. A probabilidade de um ET chegar por aqui já é mínima. E, como se não bastasse isso, para vestir uma capa vermelha e realmente ajudar a gente, não basta ser ET, tem que ter super-poderes como o Kal-El. Calculando as probabilidades novamente, putz, quase impossível.

Outra opção: já pensou se alguém fosse picado por uma aranha e começasse a subir pelas paredes, soltar teias e combater o mal? É complicado. Encontrar um bichinho desses já não é lá muito agradável. Ser picado então, nem se fala. É bem mais provável que a pessoa, ao invés de virar herói, acabe é precisando de socorro rapidinho.

Talvez, um bilionário, com muito dinheiro de verdade, resolvesse vingar a morte dos pais. Ele poderia usar uma caverna para desenvolver novas tecnologias, se vestir de preto e sair por aí combatendo os malfeitores com PAMS, CLARGHS, SOCS E TUFFS. Podia até dar certo algumas vezes, mas a chance de dar errado também seria grande. E fora que ele também seria um sério candidato a ter problemas com a justiça. As acusações seriam desde falsidade ideológica a pedofilia, por se esconder na caverna com o menino prodígio, e problemas com a Receita Federal por não ter declarado o Batmóvel e outros bens no último imposto de renda.

E os mutantes? Raios gama, ou qualquer tipo de radiação, nem pensar. Até hoje essas coisas só fizeram mal. E muito. Mas sim, é possível alguém nascer com uma mutação, digamos assim natural, que a torne especial. É raro, mas acontece. E algumas pessoas são realmente incríveis. A Superinteressante deste mês trouxe alguns exemplos de pessoas com habilidades bem especiais. Ben Underwood é um jovem americano cego que conseguiu desenvolver uma espécie de sonar. Ele é capaz não só de se orientar, mas também de reconhecer vários objetos, patinar e até jogar totó! Você já assistiu Rain Man? Pois foi inspirado em Kim Peek. Autista e portador da síndrome de Savant, apesar de não ter coordenação motora para coisas simples como se pentear ou trocar de roupa, tem uma memória extraordinária, podendo ler cerca de 8 livros por dia e lembrar de 98% de tudo depois. Já Michael Phelps deve ser a nova sensação da natação nas olimpíadas de Pequim. Ele tem pernas mais curtas e torso maior que o normal. 2 metros de envergadura, 1,92 de altura e pés com 29 cm. É como se o seu corpo fosse adaptado para a água. Garry Turner tem uma mutação genética conhecida como síndrome de Ehlers-Danlos. A doença que atinge 1 em cada 593 milhões de pessoas faz com que ele seja extremamente flexível. E sua pele se expande tanto que ele já foi parar até no Guinness Book.

OK. É possível nascer alguém com poderes especiais. Só precisamos agora descobrir que poderes teriam que ser esses pra dar conta de tanta bronca. Alguma sugestão?
Sigam-me os bons!

segunda-feira, julho 16, 2007

Oh, mundo cruel!

Diferente do que acontece na maioria dos filmes que a gente assiste, as histórias reais da vida não são cheias de finais felizes. O mundo não é um lugar lá muito justo. Isso, todo mundo já sabe. O bem nem sempre vence o mal e espanta o temporal. Quem estuda também reprova. Nosso time perde em casa. Os namoros acabam. As pessoas morrem. Os chefes demitem. A escova cai. O chocolate engorda. Os japoneses caçam baleias. O sonho acaba.

Sim, a vida é dura como uma voadora do Chuck Norris. Se você espera sentado, a vida te derruba, passa por cima, dá ré e passa de novo. Não é que não existam finais como os dos contos de fadas. E eu nem sou do tipo pessimista. Muito pelo contrário, sempre acho que o copo está meio cheio. Também acredito naquela frase que diz que, no final, tudo termina bem. Se não está bem, é porque ainda não acabou. Acredito que é possível correr atrás e alcançar o que você quiser. Desde que você tenha pelo menos um mínimo preparo físico pra isso, se é que você me entende. Logicamente, quanto mais longe você quiser chegar, mais vontade e treino você precisa ter.

Só que a vida não é uma equação lógica, onde o melhor sempre vence. Ela às vezes consegue ser bem injusta. A Copa América que terminou no último domingo está aí para provar isso. A Argentina com todas as suas estrelas, Riquelme, Messi, Verón, Tevez e tudo mais, vinha dando show. O Brasil, sem Ronaldos, nem Kaka e nem um monte de gente, chegou na final quase que por falta de opção mesmo. Só que deu tudo errado pros hermanos. O Brasil mandou no jogo, fez gol bonito e até gol contra o Ayala marcou. Melhor pra gente, né? Mas, se isso tivesse sido um filme, alguém ia ter que explicar melhor esse final. Cadê a coesão e coerência, seu roteirista? Tudo bem que todo mundo gosta de um final surpreendente, mas esse aí não teve a mínima lógica. Até o principal mocinho da história, o Robinho, aquele que podia salvar a Pátria, não fez nada. Antes de ter que reescrever tudo, o roteirista poderia até tentar se justificar. Ao invés de repetir o clichê e falar que futebol é uma caixinha de surpresas, bastava dizer que a vida é que é assim mesmo.
É a vida, Riquelme.

sexta-feira, junho 01, 2007

Qual foi a última vez que você viu um soldadinho?

Parem tudo. Chamem os jornais, os rádios e a TV. Preciso fazer um alerta urgente. Dar uma notícia catastrófica, apocalíptica, triste. Tirem as crianças da sala. Se você estiver em pé, sente. Ligue para a polícia. Para o psicólogo. Pro Papa.

Os soldadinhos sumiram!

Não estou falando daqueles que se vestem de verde e marcham não. Soldadinho, se você não sabe, é aquele bichinho preto com uns detalhes brancos, bem engraçadinho, que anda devagar e às vezes voa. Sabe qual é? Então. Você tem visto algum por aí? Aonde todos eles foram parar???
Minha preocupação já vem de algum tempo. Porque faz mais tempo ainda que está cada vez mais raro encontrar um. Sim, os soldadinhos estão desaparecendo. Seria culpa do aquecimento global? Será que eles migraram para outro país em busca de uma vida melhor? Foram vítimas de balas perdidas? Abduzidos? Será que descobriram que soldadinho dá barato e estão fumando eles pelos becos?

Logo eles, os soldadinhos. Um dos raríssimos insetos que, assim como joaninhas, conseguem ser simpáticos. E Agora me lembrei que também nunca mais vi uma joaninha.
O que aconteceu com as joaninhas e com os soldadinhos?

Eu já estava ficando realmente preocupado com isso. Achando que nunca mais conseguiria ver um novamente. Até que, assim do nada, como num milagre (alguém realmente ligou pro papa?), sem que ninguém esperasse, vi algo se movimentando na minha mesa. A janela sempre fechada, o ar-condicionado ligado. Até chegar aqui, o caminho é longo. É a última sala. Pra um bichinho tão pequeno, deve significar quilômetros de distância. Ele subiu pelo elevador ou pela escada? Quem abriu as várias portas para ele passar? Será que ele encontrou alguma fresta em uma das janelas e veio pelo lado de fora, cinco andares pra cima? Seis, contando com o andar da garagem.

Não sei como, mas eis que surgiu, exatamente na minha mesa, ele: um soldadinho. Era ele mesmo, com certeza. Preto com detalhes brancos. Andando devagar, um pouco desengonçado até, como todos os soldadinhos que eu conhecia. Quase um Chaplin dos insetos. Vindo em minha direção.

Será que os soldadinhos também estavam se perguntando por onde eu andava? Aquela presença tão inesperada na minha mesa me fez perceber que talvez não tenha sido eles que sumiram. Fui eu!

Não freqüento mais os mesmos lugares que eles. Desapareci sem mais nem menos. Eles estavam preocupados também. Talvez tenham nomeado um representante pra vir me procurar. Só pode ser isso. E ele me achou. Foi um reencontro entre velhos amigos. Ele não mudou nada. Eu, talvez um pouco. Tiramos fotos e lembramos um pouco dos tempos que passaram. Até que chegou a hora de nos despedirmos. Dei uma carona pra ele até a janela e ele se foi. Valeu pela visita, soldadinho. É bom saber que vocês continuam por aí. Querendo voltar, as portas e janelas não estão abertas, mas você deve saber como entrar.

domingo, maio 13, 2007

Casa x Visitante

O Sport acaba de vencer o Santos por 4x1. As tradicionais buzinas podem ser ouvidas em toda a Região Metropolitana. Todos os rubro-negros pernambucanos, a maior torcida do estado segundo pesquisas e da região Nordeste segundo ufanistas, está comemorando agora.

No começo desse mês, algo parecido deve ter acontecido aqui do lado. Era a Paraíba que estava em festa. O time de maior torcida no estado tinha acabado de ganhar mais um título. Só que a maioria dos paraibanos não pôde ir até o estádio ver o time do coração levantar a taça e tiveram que se contentar em assistir a tudo pela TV, como sempre fizeram. Isso, para eles, não chega a ser um problema, já que a Globo transmite quase todos os jogos do Flamengo, seja pelo Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil ou Campeonato Carioca.

Já tive a oportunidade de estar na Paraíba na última vez que o Flamengo foi campeão no Rio. A quantidade de camisas rubro-negras que se via nas ruas era grande. Os principais jornais presentearam os leitores com um pôster do campeão. Em todos os locais, não se falava de outro assunto.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Revista Placar, o time de maior torcida, não só na Paraíba, mas no Nordeste, é o Flamengo. Pernambuco (com Sport, Santa e Náutico), Bahia (com Vitória e Bahia) e Ceará (com Ceará e Fortaleza) são os únicos estados que, dentro de casa, têm torcidas maiores que os clubes do Sul/Sudeste.

Os paraibanos torcem para os times de fora. Inclusive quando os times de fora jogam contra os times da casa. O Flamengo é o principal, mas tanto faz se for Corinthians, Vasco, São Paulo, Santos... Já conversei com vários paraibanos sobre isso, tentando encontrar algum sentido. Qual é a graça torcer contra você mesmo? Pergunte a um paraibano porque ele não torce por um time da terra dele. Ele vai responder que na Paraíba não tem time. Mas tem. Eles só não têm apoio. Mesmo em tempos de Campeonato Paraibano é raro ver uma camisa do Botafogo da Paraíba, do Nacional, Auto Esporte, Treze, Campinense ou do Souza. Discussão de futebol lá é com campeonatos alheios. Amanhã, vão estar comentando que o Palmeiras venceu o Flamengo. Que o Botafogo superou o Inter. Que o Santos perdeu para o Sport...

Ah, o Santos perdeu de goleada para o Sport. Aqui, a conversa é outra. O Sport tinha obrigação de vencer o Santos. Num jogo só, vencemos paulistas e paraibanos. E como foi bonito ver a torcida deles saindo da Ilha do Retiro antes mesmo do jogo terminar. A essa hora, estão indo pra casa pela BR 101. Quem sabe, agendando a volta para o próximo domingo, quando o São Paulo vem enfrentar o Náutico. Eles não aprendem mesmo.

domingo, maio 06, 2007

Não se mexa! Você pode esbarrar no Tarcísio Meira.

Você está sozinho. Não tem ninguém por perto e tudo parece estar tranqüilo. Mas o que você não percebe é que, neste exato momento, você está completamente cercado. Não adianta correr. Eles estão em toda parte: em cima da mesa, debaixo da sua cama, no banheiro e na cozinha. Talvez, com uma intensidade mais fraca, até mesmo dentro de você!

O ar está cheio de informações. Uma quantidade absurda de sons e imagens, que você não consegue ver nem ouvir. Você já pensou nisso? Eu já. São sinais de rádio, televisão, aparelhos celulares e outras coisas que nós não conseguimos perceber, mas que estão em toda parte, ao seu redor.

É isso mesmo. A gente vive rodeado por tanta tecnologia que não percebe que o simples ato de apertar o botão do controle remoto e ver pessoas falando naquela telinha, às vezes em tempo real, é fabuloso. Crescemos achando isso muito normal. Mas não é! É absurdo! A imagem vem pelo ar, invisível. Voando por grandes distâncias, até chegar naquilo que você chama de antena. O som também vem. Silenciosamente. Alguns sinais são tão fortes que saem do planeta, vão até o espaço, batem num satélite e voltam pra gente. Em milésimos de segundo estão na sua casa, na rua, aqui.

Imagine quantas pessoas estão falando ao celular agora. Quantas emissoras de TV estão exibindo suas programações neste exato momento? E quantas estações de rádio? E ainda tem muito mais coisa. Está tudo aqui e agora, ao mesmo tempo.

É ou não é muito doido? É mais barulho e imagem do que você pensa. Se isso não existisse ainda, ninguém iria acreditar. Aposto. Passar tanta coisa assim pelo ar até o outro lado do mundo? Duvido.

Então, da próxima vez que um doido qualquer vier com uma idéia maluca, completamente pirada, é melhor acreditar um pouco. Pode ser que essa idéia sem pé nem cabeça funcione.

domingo, abril 15, 2007

Brilho eterno de um dente do juízo.

Essa história aconteceu comigo há mais de um ano, quando precisei arrancar os sisos. Foi uma, digamos assim, mini-cirurgia porque um dos dentes estava numa posição bem difícil. O combinado era extrair quatro dentes de vez, mas o dentista disse que, na hora, achou melhor tirar só dois. Segundo ele, porque a extração dos inferiores demorou mais tempo do que o esperado e eu comecei a sentir muita dor e a reclamar muito de tudo.
Peraí, eu reclamei? Como assim? Eu não me lembro disso.

Uma semana antes, quando eu estava entrando na sala de cirurgia, ainda não sabia com certeza se ia ser com anestesia local ou geral. Já deitado, com tudo pronto para eles começarem, perguntei ao anestesista qual seria o procedimento. Ele disse que seria local, com sedação. Perguntei se eu ficaria acordado e ele disse que não, já colocando um soro no meu braço e aplicando alguma coisa em seguida. Só por curiosidade, tentei saber o exato momento que eu iria dormir e comecei a contar os segundos. Foi mais eficiente do que contar carneirinhos porque cheguei no máximo até 10. Talvez 20, vá lá. Só sei que acordei duas horas depois, já no quarto do hospital, passando da maca para a cama.

Mas vamos voltar agora para aquela conversa que eu tive uma semana depois, no consultório do dentista. Ele disse que foi difícil tirar o dente, que doeu e eu reclamei muito durante a operação. Mas eu não me lembrava de nada disso. Aí, ele falou que, por causa da sedação, eu não fiquei exatamente dormindo. Passei o tempo inteiro acordado, só que meio sonolento. Ele podia conversar comigo que eu respondia. Se ele pedisse para eu virar a cabeça, eu virava. Só que a sedação causa um tipo de amnésia, ou sei lá o que, e por isso, apesar de ter sentido muita dor durante a operação toda, tendo até reclamado várias vezes por causa disso, eu não me lembrava de absolutamente nada.

Então surgiu uma questão filosófica com toda essa situação e era justamente neste ponto que eu queria chegar.
Pense comigo. Houve sofrimento ou não? Porque acabei percebendo que uma coisa só existe realmente para você, se você é capaz de se lembrar dela. Se você não lembra de algo que sentiu, fisicamente ou emocionalmente, é como se realmente nunca tivesse sentido nada.
Arranquei o siso. Doeu pra caramba. Eu reclamei e tudo. Mas a sedação me impediu de registrar isso. E, se não está registrado, não aconteceu pra mim. Arrancar o dente foi muito tranquilo. Pode acreditar. Não doeu nadinha, nadinha.


(Apesar do título, que eu fiz agora, esse texto foi escrito em 2003, antes de lançarem o excelente Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.)

segunda-feira, abril 02, 2007

Tudo de bom.

Toda mensagem de aniversário ou fim de ano é a mesma coisa: paz, saúde, sucesso, dinheiro, alegria, amor, sorte, felicidade. Até juízo, dependendo de quem recebe. É o que eu posso chamar de pacote "tudo de bom".

No fundo mesmo, tudo isso quer dizer a mesma coisa: gosto de você, lembrei de você ou, pelo menos, vou com a tua cara e desejo que coisas boas aconteçam para você.

Não é que eu não goste de receber essas mensagens. É bom saber que tem gente que, no mínimo, vai com a minha cara. Mas sempre que recebo esse tipo de coisa, acho que algo fica meio solto. Parece que, apenas desejando, o pacote "tudo de bom" vai acontecer como numa mágica.

Você acredita em sorte? Porque, se acredita, possivelmente concorda que não é possível correr atrás dela. Sorte seria tipo uma bênção ou coisa parecida. Quase algo sobrenatural. Se você não tem, não pode fazer absolutamente nada para consegui-la. Apenas desejar.

Se você acredita, faz até sentido desejar sorte para alguém.

(Um dos meus próximos textos deve ser sobre isso, tô tentando entender melhor sorte e azar.)

É uma das poucas coisas que, na minha opinião, faz sentido desejar para outra pessoa (mas isso só se você acreditar em sorte). Porque a grande maioria dos outros itens do pacote não adianta só querer que eles aconteçam.

Ao invés de desejar todas as coisas boas, como se tudo fosse cair do céu, as pessoas deveriam dizer como alcançar cada uma dessas coisas. E aí, porque não deixar um pouco a preguiça de lado e desejar “tudo de bom” de forma até personalizada?

Tipo, além de desejar paz, dizer para a pessoa ser mais calma no trânsito, parar de brigar por qualquer coisa... Evitar estádios de futebol (?) talvez. Sei lá, depende de como você encara as coisas.
Ao invés de apenas desejar muito dinheiro e sucesso, você pode dizer para a pessoa o que ela pode fazer para melhorar no trabalho. Se ela estiver desempregada, indicar alguma coisa.
Saúde? Que tal marcar pra correr na Jaqueira. Porque não lanchar na Usina de Força ao invés da Mc Donald´s? Com Ruth Lemos vimos que alimentação saudável pode ser até divertida. O Ronald nem é engraçado.
Não pode faltar amor! Que tal dizer para a pessoa ser melhor com a namorada, esposa ou esquema? Deixar de ciúme besta, fazer uma surpresa, demostrar que ama, perdoar... É clichê: trate muito bem todos que estão a sua volta e você vai receber muito amor.
Se alguém ainda está atrás da cara-metade, ajude a dar um jeito naquele cabelo. Deixe a pessoa à vontade, de bem com a vida. Alguém interessante vai acabar aparecendo na fila do supermercado, no ônibus ou no Orkut. Apresente uns amigos. Quem sabe você vira padrinho ou madrinha do casamento.

Acho que é mais ou menos por aí. Se você leu essa mensagem todinha, no mínimo, eu já vou com a sua cara. Quem sabe no final do ano. Ou no seu aniversário, ou no meu, um de nós recebe uma mensagem assim.


(O texto original foi enviado para amigos numa mensagem de feliz ano novo, no final de 2004. Aqui está bem diferente mas a idéia é a mesma.)