sexta-feira, junho 01, 2007

Qual foi a última vez que você viu um soldadinho?

Parem tudo. Chamem os jornais, os rádios e a TV. Preciso fazer um alerta urgente. Dar uma notícia catastrófica, apocalíptica, triste. Tirem as crianças da sala. Se você estiver em pé, sente. Ligue para a polícia. Para o psicólogo. Pro Papa.

Os soldadinhos sumiram!

Não estou falando daqueles que se vestem de verde e marcham não. Soldadinho, se você não sabe, é aquele bichinho preto com uns detalhes brancos, bem engraçadinho, que anda devagar e às vezes voa. Sabe qual é? Então. Você tem visto algum por aí? Aonde todos eles foram parar???
Minha preocupação já vem de algum tempo. Porque faz mais tempo ainda que está cada vez mais raro encontrar um. Sim, os soldadinhos estão desaparecendo. Seria culpa do aquecimento global? Será que eles migraram para outro país em busca de uma vida melhor? Foram vítimas de balas perdidas? Abduzidos? Será que descobriram que soldadinho dá barato e estão fumando eles pelos becos?

Logo eles, os soldadinhos. Um dos raríssimos insetos que, assim como joaninhas, conseguem ser simpáticos. E Agora me lembrei que também nunca mais vi uma joaninha.
O que aconteceu com as joaninhas e com os soldadinhos?

Eu já estava ficando realmente preocupado com isso. Achando que nunca mais conseguiria ver um novamente. Até que, assim do nada, como num milagre (alguém realmente ligou pro papa?), sem que ninguém esperasse, vi algo se movimentando na minha mesa. A janela sempre fechada, o ar-condicionado ligado. Até chegar aqui, o caminho é longo. É a última sala. Pra um bichinho tão pequeno, deve significar quilômetros de distância. Ele subiu pelo elevador ou pela escada? Quem abriu as várias portas para ele passar? Será que ele encontrou alguma fresta em uma das janelas e veio pelo lado de fora, cinco andares pra cima? Seis, contando com o andar da garagem.

Não sei como, mas eis que surgiu, exatamente na minha mesa, ele: um soldadinho. Era ele mesmo, com certeza. Preto com detalhes brancos. Andando devagar, um pouco desengonçado até, como todos os soldadinhos que eu conhecia. Quase um Chaplin dos insetos. Vindo em minha direção.

Será que os soldadinhos também estavam se perguntando por onde eu andava? Aquela presença tão inesperada na minha mesa me fez perceber que talvez não tenha sido eles que sumiram. Fui eu!

Não freqüento mais os mesmos lugares que eles. Desapareci sem mais nem menos. Eles estavam preocupados também. Talvez tenham nomeado um representante pra vir me procurar. Só pode ser isso. E ele me achou. Foi um reencontro entre velhos amigos. Ele não mudou nada. Eu, talvez um pouco. Tiramos fotos e lembramos um pouco dos tempos que passaram. Até que chegou a hora de nos despedirmos. Dei uma carona pra ele até a janela e ele se foi. Valeu pela visita, soldadinho. É bom saber que vocês continuam por aí. Querendo voltar, as portas e janelas não estão abertas, mas você deve saber como entrar.