sábado, maio 30, 2009

Face a Face com o Inimigo.

O filho de Dona Lucinha falou que viu a cara da morte e ela estava vivinha da silva.
Já o filho de Ravengar cantou que quando alguém morre, a gente chora. E quando nasce, a gente ri. Mas quem nasce, chora. E quem morre, sorri.
Os filhos de Francisco, não sei o que disseram. E nem quero saber.

E você, alguma vez já viu, assim bem de pertinho mesmo, a face da morte? Não tô falando daquela velha série de filmes bizarros, que eu também não vi, mas de você achar que ia, digamos assim: bater as botas, virar presunto, passar desta pra uma melhor, ir pro beleléu, comer capim pela raiz, abotoar o paletó de madeira, empacotar ou, sei lá, virar purpurina.

Eu já. Quer dizer, virar purpurina claro que não. Acho que a melhor expressão pro meu caso foi: subir no telhado. Como ninguém atualiza o blog lá do além, ficou fácil perceber que eu não caí. Talvez, por isso, também não me lembrei de quando era uma criança e de tudo que vivera até ali. Não era mesmo a minha hora, se é que isso existe.

Sabe quando Woody Allen falou que não tem medo de morrer, só não quer estar quando isto acontecer? Eu entendo perfeitamente, o troço é punk. Eu até já contei aqui, por alto. E foi lá no alto mesmo que rolou. Tava decolando do aeroporto do Recife, apreciando a paisagem, numa nice e tal, quando começou a sair fogo de uma das turbinas. Lembra de Quase Famosos? Essas situações causam o maior pânico dentro de um avião, certo? Que nada. Ao meu lado tinha uma velhinha bem tranquila, que nem mesmo sabia o que estava acontecendo. Tava todo mundo caladinho, calminho, enquanto eu e quem tava na minha fileira nas janelas do lado esquerdo, via aquelas labaredas gigantes. O avião sobrevoava o mar, justamente o da praia de Boa Viagem. Perfeito! Se a gente não explodisse, virava almoço de tubarão. Não tinha saída. O coração disparou e o medo foi grande. O piloto avisou que desligou a turbina defeituosa e ficou dando voltas sobre a cidade, enquanto aguardava instruções pra saber se voltava pro aeroporto ou não. Felizmente deu tudo certo e nem precisamos voltar. Seguimos viagem sem ir em direção a luz.

E essa nem foi a única que vez que eu precisei rezar pra adiar mais um pouquinho o final da minha missão, seja lá qual for essa bendita. Vejamos o cenário: jogo do Sport, em São Paulo, pela Copa do Brasil 2008. Era contra o Palmeiras e quatro amigos meus, todos de lá, iriam torcer pelo Porco. Me disseram que era a maior limpeza ir de ônibus com eles e eu acreditei. No estádio, cada um iria pra sua torcida e na saída nos reencontraríamos. Tava tudo certo quando de repente, subiu a Mancha Verde no busão que ficou entupido de gente. Não cabia mais nenhuma mosca. E eu era o único do time rival ali apertado no meio da multidão. Cara, se meus amigos palmeirenses ficaram amarelos de medo, imagina eu, que era o único ali com sotaque. Pelo menos eu estava à paisana, usando uma camisa azul. Só não podia falar absolutamente nada, pra ninguém perceber que eu era do Nordeste e ligar A com B. Teve um momento que um mal elemento, mal encarado e, no mínimo, mal educado começou a examinar a gente de cima até embaixo. Descaradamente mesmo, como se fosse assaltar. Se ele resolvesse mandar todo mundo passar o celular, eu tava ferrado. O papel de parede do meu era o escudo do Sport. Se ele levasse minha mochila, ia encontrar dentro dela a bandeira e a camisa rubro-negra. Juro que tive mais medo dessa situação do que da turbina pegando fogo. Até porque a morte ia ser muito, mas muito mais dolorida dessa vez, sem comparação. Graças a Deus, deu tudo certo e chegamos sãos e salvos. E até o Sport acabou sendo o campeão daquele ano. Sensacional!

Como o que não mata, engorda, pelo menos ganhei duas boas histórias pra contar. E graças a elas, quem acabou ressuscitando foi este blog. Ufa.

Porque você não vai ver se eu tô lá na esquina?
Pensando bem, melhor não.

2 comentários:

Táta disse...

Eu, com certeza, vi a morte de perto já, mas não to lembrando qnd....E esse texto me deixou agoniada pq n consigo lembrar...
Como uma filha de Wood, n tenho um pingo de medo dela e até achei que essa ideia do 447 muito boa...vc morre no mar quentinho (32o), acompanhada e, ainda por cima, não corre o risco de ser entupido num caixão correndo o risco de acordar e ngm te escutar...
mas, afinal de contas, qnd foi que eu vi a morte???
já tinha visto essas duas tuas há algum tempo...mas as minhas...
mas ufa! o blog renasceu!! É isso que interessa! deixa ele livre para viver!
=o*****

Anônimo disse...

Texto super gostoso! Adorei!!! Deiva posta mais! :)